Matéria publicada no jornal FOLHA DE SÃO PAULO em 19/07/99, coluna Ciência
Uma professora de enfermaria da Universidade Purdue, nos EUA, está usando aquários para melhorar os sintomas do mal de Alzheimer.
Diante dos peixes coloridos, os pacientes ficam mais relaxados e atentos. Diminuem a duração e intensidade, comportamentos como agressões físicas, gritos e perambulações a esmo. Os pacientes também comem mais: o aumento é, em média, de 17,2%.
"A alimentação é sempre um problema, porque ou os pacientes estão correndo para cima e para baixo, ou estão tão letárgicos que não ficam acordados para comer", diz Nancy Edwards, a coordenadora do estudo.
Abrir o apetite significa reduzir a quantidade de suplementos nutricionais dados aos pacientes. A vantagem é dupla: a comida é mais saudável que os complementos e custa menos que eles. O aquário também reduz a quantidade de drogas e procedimentos para "acalmar" os pacientes.
O mal de Alzheimer, causado pela degeneração dos tecidos cerebrais, afeta principalmente após os 60 anos. A doença começa com a perda de memória. Depois, podem surgir confusão mental e distanciamento afetivo.
Edwards observou melhoras em todos esses aspectos. Os pacientes prestavam atenção ao tanque por até 30 minutos seguidos - segundo ela, um tempo relativamente longo.
Um mulher que nunca havia falado com ninguém dirigiu-se a Edwards: "Ei, moça dos peixes, quantos peixes há no aquário, seis ou oito?. Eram seis. A paciente continuou: "Uma vez contei seis; outra, contei oito".
Antes de começar o estudo, Edwards observou, por quatro semanas, o comportamento de 60 pacientes de três clínicas. Depois eles foram expostos, também por quatro semanas, aos aquários.
Alguns deles foram expostos, antes do aquário, a paisagens marinhas. Os desenhos, aparentemente não tiveram efeito.
Para Edwards, a "combinação de movimento, cor e som" é capaz de "estimular algumas funções cognitivas dos pacientes".
Outros estudos já haviam demonstrado que a convivência com animais de estimação tem efeitos terapêuticos.
A professora diz que, com portadores de Alzheimer, entretanto, há dificuldades. "Eles podem pisar no rado do gato ou puxar os pêlos do cachorro", conta. "O bom dos aquários é que eles são indestrutíveis."
Os aquários usam vidros ultra-resistentes, tampas lacradas e um fundo especialmente desenhado para facilitar a visão dos peixes por pacientes com catarata ou outros problemas visuais.
Os resultados preliminares da pesquisa foram divulgados em junho/99 na Conferência Internacional de Enfermagem, em Londres.
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